terça-feira, 5 de outubro de 2010


A viagem não acaba nunca.

Só os viajantes acabam.

E mesmo estes podem prolongar-se
em memória,
em lembrança,
em narrativa.

Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”,
sabia que não era assim.

O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.

É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde,
o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.

É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.

É preciso recomeçar a viagem.

Sempre....




José Saramago

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